sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Caminhos incertos, Alvos indefinidos - Pr. José Verneques


CAMINHOS INCERTOS, ALVOS INDEFINIDOS

Por José Verneques Santos

1. A PERIGOSA GUINADA POLÍTICA DA IGREJA EVANGÉLICA BRASILEIRA

 

 "Todo homem, que se entrega à política, aspira ao poder; seja porque o considere como instrumento a serviço da consecução de outros fins, ideais ou egoístas; seja porque deseje o poder 'pelo poder', para gozar do sentimento de prestígio que ele confere." Max Weber[1]



      Os passos dados pela igreja em relação a sua participação na política partidária precisam ser, antes de tudo, bem pensados e norteados pelo seu compromisso com a Escritura Sagrada, pela ética e sensatez. A igreja como instituição organizacional não deve se furtar a fazer reflexões de natureza espiritual, sociológica e econômica do pensamento e da prática religiosa quanto a sua atuação e contribuição na política. Essas questões irão definir sua dimensão atitudinal que servirá de base indispensável nas suas decisões partidárias. A comunidade de Cristo é como um farol que brilha na escuridão das trevas deste mundo, sua missão é ser vista de tal modo, que influencie a sociedade de seu tempo a praticar o bem e seguir os padrões bíblicos. Seu dever é apresentar Jesus Cristo ao mundo que a cerca, mas o Cristo que a Igreja deve apresentar é o Cristo vivo e poderoso, capaz de transformar vidas destruídas e desesperançosas tornando-as novas criaturas nascidas d’Ele. Para isso a Igreja precisa se conscientizar de que está neste mundo, e ao mesmo tempo em que ela não deve compactuar com o pecado que o domina, também e de modo algum, pode ser estranha à sociedade que a ouvirá. As questões enfrentadas pela Igreja destes dias são diversas, sua postura definirá sua visão. A aceitação de sua mensagem dependerá de como ela entende e enfrenta as questões divergentes.

     Sobre a participação da igreja evangélica na política, as principais lideranças evangélicas brasileira vêm gradualmente marcando presença nos Três Poderes e, quanto às eleições, há pastores apoiadores e candidatos em todas as esferas: municipal, estadual e federal, tanto apoiando e pedindo o apoio de seus membros para candidatos de suas denominações, quanto para candidatos fora do circulo da fé cristã evangélica.

O retorno exigido disso é o compromisso de fidelidade que cada um dos candidatos, se eleitos, devem assumir com relação a sua denominação, a ética e aos valores cristãos da família tradicional. Os projetos políticos se reformulam na medida em que a cada eleição aumenta a procura de candidatos buscando apoio dos evangélicos e, eles passam a ser mais cobiçados e procurados para apoiar esse ou aquele candidato, sempre com a proposta de fidelidade aos valores defendidos pela nação evangélica.

Os passos a seguir são indefinidos e incertos, já que nem sempre aquilo que é proposto e ofertado é cumprido pós-eleição pelo candidato (a) contemplado (a) com os votos dos evangélicos, posto que os mesmos se comprometam com outras classes e segmentos que por vezes confrontam tais valores, daí os perigos vigentes por parte de uma classe religiosa que sempre se pautou pelos valores éticos e morais, pela defesa da família tradicional, tendo como regra de fé e prática unicamente a Bíblia Sagrada.


2. A ILUSÃO POR POLÍTICOS MESSIÂNICOS E SEU USO CONVENCIONAL NA POLÍTICA BRASILEIRA


"E Jesus, respondendo, disse-lhes: Acautelai-vos, que ninguém

vos engane; porque muitos virão em meu nome, dizendo:

Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos". Mt. 24:4,5.


 

     O messianismo político ainda tem sido muito explorado pela classe política, que recebe apoio por parte de alguns líderes evangélicos. Obviamente isto é sem dúvida alguma, um dos maiores erros cometidos repetidamente não somente pela massa evangélica na hora de eleger seus candidatos, mas praticamente por toda a sociedade em geral. Não deve haver fé religiosa ou confiança cega em políticos (o autor deste artigo não acredita em nenhum político), mas sim exercer o direito de cidadão e acompanhar (fiscalizar) atentamente o mandato daqueles que foram eleitos, independentemente de o terem sido com ou sem o nosso voto.

Eles jamais devem ser beatificados, pelo contrário, devem ser cobrados por todo o período de seu mandato em exercício a ponto de estarem cônscios de que estão sendo observados e pressionados a cumprirem seu papel segundo a constituição do país, e isso eles não devem fazê-lo com o pretexto de ser considerada uma virtude, mas apenas o seu dever.

     No Brasil o messianismo político infelizmente é algo quase sui generis, e no meio evangélico ele é praticado com certa freqüência.

Na verdade, isso ainda ocorre por falta de uma conscientização política de base na classe evangélica, muitos cristãos evangélicos principalmente nos segmentos pentecostal e neopentecostal, ainda não são devidamente politizados a ponto de fazerem certa autocrítica na hora de escolher esse ou aquele candidato sem que haja cerceamento por parte de alguém. E não quero com isso dizer que os fiéis não devam seguir orientação de sua liderança com respeito à escolha deste ou daquele candidato, pois seus líderes têm o direito e o dever de conscientizá-los e orientá-los em tudo, inclusive nas questões políticas; quero dizer que os fiéis devem exercer sua liberdade de decidir e fazer suas escolhas, sobretudo baseados na Escritura Sagrada e em sua consciência política analisando o contexto em que estão inseridos, sem influência exterior.

Uma das primeiras coisas que aprendi com a ciência política foi a de que assim como "não há ser humano que nunca minta", do mesmo modo, não há políticos que não mintam, e isto está em conformidade com a Escritura Sagrada: "[...] Sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso... Rm. 3:4", e é sob esse prisma que os cristãos evangélicos devem enxergar a política, com confiança sem imaturidade, posto que não deva haver ídolos na política, pois não há inocentes nela, ninguém se iluda.


3. A IGREJA DEVE CUMPRIR SUA VOCAÇÃO DISCERNINDO O SEU TEMPO


A Igreja não tem e jamais deve ter fidelidade partidária;

 o que ela tem e precisa preservar é a fidelidade no seu Cristo,

 mantendo-se fiel aos padrões bíblicosPr. José Verneques


 

     A classe evangélica nunca foi tão cobiçada por políticos de todos os matizes como nestes dias, isso porque os evangélicos tiveram papel preponderante nas eleições de 2018, sendo responsável por eleger um Presidente da República com uma espécie de "voto de minerva".

A partir de então os evangélicos têm sido vistos como uma força de apoio indispensável a todo aquele que quer ganhar as eleições, e é neste contexto que a frase em exposição colocada logo no início deste artigo dita por Max Weber, deve ser analisada. A igreja evangélica e seus líderes devem tomar todos os cuidados possíveis antes de apoiar qualquer candidato, aventurando-se por caminhos não conhecidos. Isso não significa que ela não deva participar da política, pois como representante maior do Reino de Deus na terra e guardiã una do Evangelho de Jesus Cristo, a igreja tem responsabilidades com a justiça em todos os âmbitos, tanto a justiça espiritual, quanto a justiça social. Significa sim que os evangélicos devem discernir sua real missão sacerdotal e abster-se de polarizações estranhas ao objetivo primário da igreja aqui na terra. Penso que a igreja evangélica não deve cair na armadilha de tomar partido por esse ou aquele político cegamente, comprometendo desta forma seu currículo na sociedade. Principalmente os que, como camaleões que escondem sua tez e se infiltram no seio evangélico, hora decorando versículos bíblicos sem saber ao menos o seu significado e nunca tomá-los como princípios para sua vida moral; hora como amigos dos cristãos escondendo o compromisso de pautas anticristãs no seu bojo.

A Igreja Evangélica Brasileira não precisa destes, pois há homens e mulheres extremamente capazes no meio evangélico brasileiro, e a igreja pode, a partir de uma filosofia política transparente, justa, independente e imparcial, através de seus próprios membros, contribuir grandemente para o bem estar em todos os sentidos na nossa Nação. Como disse o sociólogo Freston[2]: "Religião e Política, sim; Igreja e Estado, não".

Soli Deo Glória


Pr. José Verneques Santos

Presidente da AD - Ministério Paulista

Primeiro Secretário da COMADESPE

 

 

Referências:

 

[1] WEBER, Max. Ciência e Política, duas vocações. Ed. Cultrix.

[2] FRESTON, Paul. Religião e Política, sim; Igreja e Estado, não. Ed. Ultimato.



Veja outros artigos do autor no Blog: ARTIGOS TEOLÓGICOS

15 comentários:

  1. Excelente artigo! Muito coerente. Concordo plenamente. DEUS abençoe e dê graça e sabedoria aos nossos líderes neste tempo tão complexo.

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    1. Caro amigo e pastor Jeferson Martiniano,
      A Paz do Senhor!
      Oremos nesse sentido!
      Sua visita aqui é uma honra para este singelo blog.

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    2. Que surpresa boa!
      Que Deus continue te abençoando,
      Pr Jef Martiniano

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  2. Parabenizo o diretor do blog, Pr.Carlos Roberto,por trazer nesta postagem um tema tão necessário, tendo em vista a realidade do posicionamento político estranho de alguns líderes das ADs,que mudam de opinião, não por princípios basilares e conservadores da Palavra de Deus,mas por interesses políticos ou sabe-se lá o que há por detrás, mas Deus o sabe,mas há algo estranho e fétido no ar,Deus requererá aquí, ou na sua vinda em glória,não ficará impunes os mercadres do templo.
    Parabenizo também o Pr.José ,pelo tema tão propício e necessario,uma redação clara e objetiva.
    Deus Vos continue abençoando com sua maravilhosa Graça.
    Pr. Natair Corrêa
    AD Atrio Pleno - Brasília DF

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    1. Caro amigo e pastor Natair Corrêa,
      A Paz do Senhor!

      Grato pela honrosa visita - Seu comentário agrega valores ao artigo do nosso companheiro, Pr. José Verneques.
      Saúde & Paz!

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    2. Amém obrigado pela oportunidade de participar deste tão seleto e importante blog, meu amigo e.irmão Pr.Carlos Roberto

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    3. Amém obrigado pela oportunidade de participar deste tão seleto e importante blog, meu amigo e.irmão Pr.Carlos Roberto
      Graca e Paz da parte do Senhor

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  3. Pastor Carlos Roberto, a Paz do Senhor. Com muito respeito, quero deixar algumas linhas sobre o post de nosso caro Pastor Santos. Tenho opinião formada sobre a representação política ambicionada pelas lideranças da Igreja Evangélica e, porque não dizer, também da católica. Sobre isso escrevi em tempos pretéritos, tendo revisado o texto "Um profeta á sombra do carvalho" em 2020.

    O mal nunca cochila e Há, sim, o messianismo do mal. Neste exato momento,como já conversei sobre isso pessoalmente, um contingente desconhecido de seguidores do ladrão está fazendo ativismo no meio das Igrejas e trabalhando até no meio de nossas famílias para defender a serpente que deseja ardentemente tomar o poder para nivelar todos na miséria.

    À semelhança do profeta velho, eles estão dizendo: Eu também sou crente como você, não se preocupe, Deus "apareceu" para mim e mudou a ordem que havia lhe dado. Vem para minha casa, come, bebe e descansa um pouco.

    Se as Escrituras registram que devemos fugir da aparência do mal, essa ideia de "messianismo" ou talvez populismo, de fato sempre existiu no Brasil, porém, eu prefiro ver um crente depositando sua confiança no atual executivo que temos, do que ouvir na lata oa deboches descarados contra pastores feitos pelo cachaceiro.

    Infelizmente, há muitos que dormem cujos ouvidos e olhos ainda não se aperceberam que a jararaca sinistra está cada dia mais amada e apoiada pela imprensa brasileira que, via de regra, odeia crentes.

    Espero que nosso Senhor e Deus nos perdoe a vaidade que rola do púlpito à nave das Igrejas e não permita dessa vez que a serpente enroscadiça não venha a destruir o futuro de nossos filhos e netos.

    Nosso Messias é Jesus. Bolsonaro somente está no poder, porque toda autoridade vem de Deus. Se for da vontade de Deus, com ou sem messianismo ele se elegerá. Mas se o pecado dessa nação já tiver passado do limite do retorno para o perdão, teremos tempos futuros muito difíceis de viver.


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    1. Caro amigo, Pb. João Cruzue,
      A Paz do Senhor!

      O amado sabe que uma das grandes virtudes da blogosfera, é a troca saudável de idéias.

      O articulista, pontuou de maneira sábia uma realidade do nosso tempo, no entanto, isso nos leva a votar com uma consciência cristã, e não por emoção.

      Aqueles que o fazem por emoção, ao primeiro erro daquele que foi eleito, já se arrependem, e se voltam a favor de quem eram contra (rsrs)

      Quem vota com a consciência, pensa como o prezado amigo. Quando por algum motivo não temos a opção ideal, votamos naquela que está mais próxima da que desejamos, ou seja, jamais poderemos optar por aqueles que deliberadamente já se pronunciam contrários aos princípios que defendemos à luz das Sagradas Escrituras.

      Muito obrigado por agregar valor à este post.

      Seja sempre muito bem vindo por aqui.

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    2. É bom lembrar wue Deus está no controle da História, mas quem vota é o ser humano...
      E tudo que o homem plantar, isso tambem colherá:
      Incluindo o VOTO para escolher os rumos da Nação e das nnovas gerações.
      Aí está embutido tudo o wue cremos e queremos.
      E viva o direito de VOTAR:
      Como cidadão do Céu e da terra!
      🛐⚠️🚸🇧🇷✝️

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    3. Perfeito, meu irmão.
      A liberdade de votar, bem como o exercício do livre arbítrio, também trazem as consequências, pelas quais somos responsáveis diante de Deus.

      Grato pela participação neste espaço!

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  4. A paz do Senhor aos amados irmãos.
    Parabéns ao ilustre pastor articulista, sobretudo, pela preocupação pastoral na seara política. A igreja pentecostal carece disso, há anos.
    Não há dúvida de que o momento político brasileiro está numa bifurcação, encara uma dicotomia; ouso dizer que a igreja terá, necessariamente, que eliminar os candidatos claramente inimigos do Santo Evangelho, o que não me parece difícil, uma vez que entendo ocorrer a interveniência do nosso Deus, pondo às claras o que devemos eliminar.
    Se a igreja não atentar para sinais tão evidentes, não se queixe daquilo que colherá.

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    1. Caro amigo e pastor Prof. Izaldil Tavares,
      A Paz do Senhor!

      O amigo sempre preciso em suas colocações.
      Muito obrigado pela honrosa participação neste singelo blog.
      Volte sempre!

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  5. A paz do Senhor!
    Um excelente post.Mas não podemos nos furtar, como observador das escrituras sagradas de exercer o direito de escolha,mas privados pelos conselhos de nossa bússola, as escrituras. Não podemos contrariá-la, e deliberadamente apoiar a partidos com ideologias contrárias. Isso, independente do candidato que esteja alí associado. Pois se está associado a essa agremiação, no mínimo, flerta com seus ideias.Também não podemos compactuar com Partidos que defendem abertamente os direitos dos manos,o aborto, e a deturpar aquilo que no princípio criou Deus. E achar que por receber qualquer benefício, seja complacente com a corrupção e injustiça, mesmo sendo, declarado inocente pela suprema corte. Quando o supremo Deus e as sagradas escrituras declara o contrário. Ficamos com as Escrituras!

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  6. Caro comentarista anônimo,
    A Paz do Senhor!

    Perfeito seu comentário. Penso o mesmo.

    Grato pela honra da sua visita e comentário.

    Da próxima vez, não conseguindo inserir o link do seu perfil, pode se identificar no final do comentário.

    Deus te abençoe!

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Muito obrigado pelo seu comentário!
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Pastor Carlos Roberto Silva
Point Rhema

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