segunda-feira, 18 de agosto de 2025

A IMPORTÂNCIA DA INFLUÊNCIA PASTORAL NA TEOLOGIA PÚBLICA



A IMPORTÂNCIA DA INFLUÊNCIA PASTORAL NA TEOLOGIA PÚBLICA - Por Pr. José Verneques Santos



"Que os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus". (1Co. 4.1)


     Num primeiro momento, é preciso frisar que a Igreja é detentora de um patrimônio histórico vivenciado, cujo fundamento bíblico/teológico precisa ser compartilhado com a sociedade a qual está inserida. Dentre esse patrimônio está o saber teológico-pedagógico-pastoral, e este saber também deve estar a serviço da sociedade, posto que sem essa atitude a práxis pastoral pode cair na armadilha de soar apenas como um discurso tautológico diante dos ouvidos do mundo. De forma alarmante, sair dos intramuros eclesiais ainda é um desafio para muitos pastores da comunidade cristã destes dias e, ainda que muitos deles deem um passo à frente empenhando-se em inovar, grande parte dos que se dispuseram a fazê-lo não conseguem fazer mais do que apresentar trabalhos triviais, desconexos da realidade.

     Nessa perspectiva, o pastor em sendo o responsável para promover mudanças relevantes, precisa deixar o espaço privado da comunidade eclesial para interessar-se pelo bem comum da sociedade como um todo, sem, contanto, perder de vista sua vocacionalidade. Por conseguinte, é necessário que se entrelace a possibilidade de ele pensar numa participação de sua vida pastoral com base em um universo d’além da realidade eclesial interna, mas isso só pode tornar-se possível a partir da sua disposição na irrupção desses muros, isso deve ser considerado como algo de grande sensibilidade.

     No discurso pastoral é preciso haver elementos de esperança tão atingíveis ao indivíduo de dentro da comunidade, como ao indivíduo de fora dela, isso de forma integral. O pastor não pode perder da memória o fato de que Deus, ao se encarnar no homem Jesus, assume a dimensão humana integralmente e ela se torna pública. Outrossim, o fio condutor está na transmissão proposta de como e o quanto a comunidade eclesial se interessa pelo bem-estar da sociedade à medida de suas ações para com ela. Essas ações despertam a sociedade fazendo-a enxergar o quanto temos de Deus em nós. Nas palavras de Rubem Alves:

"Deus é um grande e inominável mistério e o que podemos dizer se refere apenas àquilo que acontece em mim [...]. Teologia é antropologia: falar de Deus é falar de nós mesmos." (Rubem Alves)

     Nessa ótica, a experiência de fé adquirida na práxis pastoral é apresentada ao mundo que cerca a Igreja, maiormente acima de uma forma de publicização da experiência religiosa em si, é sim, verdadeiramente, o modo pelo qual essa fé que se revela de forma concreta se manifesta ao mundo. Na esteira das grandes transformações que caracterizam o mundo de hoje, negar-se a ouvir o clamor pelo diálogo da pastoralidade com a cultura é decidir-se pela ilusão de que nossa sociedade não mudou seus costumes, a questão é: como se dará esse diálogo e qual deve ser o teor do mesmo?

     Num sentido mais amplo, não discernir a pastoral em tempos de crises moral e espiritual é desconhecer as potencialidades exponenciais em que a sociedade atual caminha. Nessa ótica, se propor a discutir teologia pública é ter disposição para dialogar com diferentes áreas de construção do conhecimento e, de forma inevitável, o pastor será levado a um choque cultural, considerando sua visão eclesiástica interna. Se olharmos para a história, veremos o reformador João Calvino se manifestando com relação à forma de administração política, apoiando-se na teologia bíblica:

"Ora, ainda que o teor desta consideração pareça ser em natureza distinto da doutrina espiritual da fé, o qual me propus haver de tratar, contudo o andamento da matéria mostrará que com razão tenho que enfrentá-la, mais ainda, sou impelido pela necessidade a fazer isso, especialmente porque, de uma parte, homens dementes e bárbaros tentam furiosamente subverter esta ordem divinamente estabelecida; de outra, porém, os aduladores dos príncipes, exaltando-lhes desmedidamente o poder, não duvidam opô-la ao domínio do próprio Deus"  (CALVINO, 2006, p. 451)

     Nessas linhas, Calvino justifica a sua iniciativa enquanto teólogo, de tratar da forma como a administração política estava incorrendo, em contraponto especificamente a dois opositores: "A Tradição Política do Cristianismo Medieval e a Radicalidade de Setores da Reforma". Seu esforço é para entender o verdadeiro papel que a Igreja deve ter na transformação de uma sociedade mergulhada no pecado, para uma sociedade justa e piedosa, que refletisse como um espelho a genuína vontade divina naquilo que se entendia como os principais problemas sociais e as injustiças praticadas pelos atores políticos.

     Tomando a ação do reformador como exemplo, percebe-se que a presentificação do passado é algo extremamente necessário em diversas esferas da sociedade de nosso tempo, essa percepção torna-se mais clara quando há uma honesta intencionalidade em que o exercício pastoral assuma uma forma de se colocar a serviço dessa necessidade para contribuição da mesma. Isso diz respeito à vocacionalidade do pastor. Assim sendo, teologar em público não pode e nem deve ser algo que cause pânico ao representante de Deus, contrariamente a isso, deve ser algo corriqueiro em sua vida pública.

     Diante deste cenário e frente aos desafios de nossa sociedade e possibilidades multiformes de manifestação da fé aliançada na contribuição pastoral, a premissa de que a fé cristã que se apresenta ou que se configura como ideia, se torna, com frequência, em uma fé ideologizada, fundamentalista e subjetivista, não sobrevive à realidade da igreja cristã atual, considerando que essa igreja manifesta cotidianamente sua contribuição eclesial e o faz segurada nos ensinos de Jesus e na doutrina bíblica apostólica. Ademais, a comunidade cristã tem dado provas constante quanto a expor seu pensamento diante dos desafios sociais que se colocam diante dela, aliás, ela tem sido duramente criticada e, porque não dizer, bastante perseguida por conta desse seu modo de pensar.

     Frente a isso, detecta-se que as divergências expostas ora apontada pela atual sociedade que acusa a comunidade eclesial como sendo preconceituosa e principiante da discussão, não se evidencia no mundo real. Comumente vale a pena lembrar que tais divergências surgem dantes, pelo Iluminismo corporificado na Revolução Industrial, quando o mesmo conscientemente assumiu vias que geraram inúmeras barreiras e preconceitos, que acabaram por distanciar mais ainda uma junção entre fé e razão. Nessa ótica, constata-se que barreiras e preconceitos estão sendo colocadas exatamente pelo lado contrário, ou seja, o lado que acusa a Igreja de principiar esse debate.

    Por fim, reconhece-se de forma honesta que a atuação pastoral indo ao encontro das necessidades da sociedade fora dos intramuros da igreja local a qual sua denominação está inserida ainda é comezinha. No entanto, percebe-se uma mudança gradual nessas tendências quando se pode constatar o esforço de determinados líderes evangélicos que, em cumprimento à sua vocacionalidade pastoral, se propõem em dialogar com o diferente, sem medo de se contaminar ou de se embriagar no percurso do diálogo.

Enfim, numa linguagem metafórica, essa tessitura não é tão fácil de ser construída, todavia, a comunidade eclesial não pode mais se dar ao luxo de evitá-la. Com efeito, a dimensão da confessionalidade implica na preservação de princípios bíblicos estabelecidos inegociáveis pela pastoral.

SOLI DEO GLÓRIA


Pr. José Verneques Santos
  • Presidente da AD - Ministério Paulista
  • Primeiro Secretário da COMADESPE
  • Graduado em Teologia IBAD/FABAD
  • Pós-graduado em Ciências da Religião FATEMIG/IBEMIG
  • Pós-graduando em Educação Especial e Inclusiva (TDH)
Autor dos Livros:
  • .Jornada Ministerial
  • .A Suficiência do Evangelho de Cristo para Sua Igreja
  • .Igreja e Política, Caminhos Paralelos Para Alvos Diferentes
  • .Por um Discipulado Segundo Jesus Cristo
  • .O Deus Homem, A Incomparável História de Jesus Cristo

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Pastor Carlos Roberto Silva
Point Rhema

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