EPAFRODITO, UM OBREIRO DISCRETO, UM EXEMPLO A SER SEGUIDO (FP. 2.25-30) - O Currículo De Um Obreiro Fiel Aprovado Por Deus - Por Pr. José Verneques
Por: Pr. José Verneques Santos
INTRODUÇÃO
O nome Epafrodito é derivado da união das palavras gregas "epi", que significa "sobre" ou "acima", e "Aphrodite", referente à deusa do amor e da beleza, Epafrodito tem sua raiz na mitologia grega e significa: "agradável a Afrodite ou, dedicado a Afrodite", carrega consigo uma história mitológica fascinante, sendo o nome derivado de "Aphrodite", a deusa grega do amor, da beleza e da sensualidade. Segundo a mitologia, Epafrodito era filho de Afrodite com Hermes, o mensageiro dos deuses. Sua beleza e graça eram tão excepcionais que até os próprios deuses se encantavam com ele.
Deixando de lado questões mitológicas, quero me deter apenas ao texto bíblico descrito por Paulo em Filipenses 2.25-30, onde o apóstolo nos apresenta Epafrodito como uma pessoa que deu uma contribuição fundamental para o crescimento do evangelho naqueles dias de perseguições à igreja. Epafrodito era um obreiro discreto e "servo nos bastidores" no bom sentido do termo. Era um obreiro que se empenhava em não aparecer ou estar sob holofotes, e buscava agir de modo discreto a serviço do Reino de Deus. Paulo tinha por ele um cuidado especial, tendo em vista a prova de sua fidelidade para com Deus, a igreja e o apóstolo, num momento crucial da vida desse último.
UM OBREIRO DISCRETO QUE CONTRIBUIU COM EXCELÊNCIA PARA O REINO DE DEUS
Epafrodito foi enviado pela igreja de Filipos para levar até Paulo na prisão uma oferta de amor da parte daquela comunidade para ajudá-lo a suprir suas necessidades e aliviá-lo de suas dores pelo peso do cárcere. Sua missão era ficar mais tempo com o apóstolo confortando-o e auxiliando-o. Mas Paulo ainda que sofrendo as intempéries de uma prisão, não deixou de perceber a importância que aquele servo tinha para aquela igreja e, por conta disso não o manteve consigo, mas deu-lhe ordens expressas para que voltasse até a comunidade local que o enviara. A grandeza de espírito do principal dos apóstolos é aqui notada, Paulo não pensou em si mesmo, ainda que tivesse todo o direito de fazê-lo. Ele renunciou a suas prerrogativas pensando no bem-estar da igreja de Cristo em primeiro lugar.
Diferente da cultura eclesiástica ensinada e praticada em muitos lugares por muitos obreiros destes dias, onde a filosofia costuma ser: "Em primeiro lugar Deus, em segundo a familia e, em terceiro lugar a igreja". Paulo demonstra um contraste nítido em seu pensamento com relação ao pensamento supracitado. Ele sabia mais que qualquer outra pessoa que ao ser chamado por Deus para servi-lo como apóstolo, essa distinção era impossível, primeiro porque Deus não chama alguém que não cuida de sua família (1Tm. 5:8); segundo, porque não há sensatez em viver dizendo que "ama" a Deus mas não tem obrigação de amar e servir a sua igreja, tal filosofia é incompatível com a vocação ministerial exposta nos evangelhos e nas cartas paulinas.
Vemos claramente que as qualificações de Paulo e Epafrodito vão de encontro a essa forma de praticar o serviço cristão, posto que ambos se deram pelo Reino de Deus mais do que por si mesmos e em nenhum lugar da Escritura acha-se algum tipo de reprovação a eles por parte de Deus. Obviamente que as Escrituras Sagradas nos exorta a cuidarmos de nós mesmos, pois que se negligenciarmos e não atentarmos para as fragilidades e necessidades do corpo físico e mental, da nossa realidade social, produziremos muito menos do que poderíamos produzir para o Reino de Deus, sendo assim, buscar o equilíbrio é o caminho mais sensato. Por outro lado, o discurso presunçoso de que para servir a Deus não é preciso se desgastar na sua obra, como se fora possível cumprir a vocação ministerial sem renúncia, constitui-se em falácias reproduzidas por acadêmicos preguiçosos que não simpatizam com a evangelização, que não têm disposição de sair de seu lugar de conforto em busca dos perdidos, primando por teorias evangelicais. Não foi à toa que Jesus, ao escolher doze homens para dar seguimento ao seu projeto de igreja, passou pelas "academias teológicas" daqueles dias e preferiu escolher pescadores em sua maioria, com calos nas mãos, experimentados nos trabalhos e acostumados a acordarem cedo para enfrentar o labor do dia. Sem trabalho, tudo se desfaz.
Voltemos a Epafrodito. Ao examinar o texto, percebe-se que ele contém no seu bojo uma riqueza de detalhes não somente para aqueles dias, mas também para os dias atuais, tão conturbados que são. Nele o apóstolo dos gentios revela qualidades de excelência na vida daquele servo fiel que são fundamentais para a comunhão entre os irmãos e para a doutrina eclesiástica desses dias:
"Julguei, contudo, necessário mandar-vos Epafrodito, meu irmão e cooperador, e companheiro nos combates, e vosso enviado para prover às minhas necessidades".
Note: "Julguei, contudo, necessário mandar-vos Epafrodito..." a frase paulina denota uma ordem imperativa – mandar-vos. Mandar aqui em relação a Epafrodito está no sentido de enviar, mas de modo geral a palavra tem o sentido de dar ordens, constata-se que muitas pessoas atualmente têm enormes dificuldades com esse verbo, muitas delas se sentem humilhadas quando alguém lhes dá uma ordem, seja numa condição hierárquica de instituição secular ou religiosa, pública ou particular. No caso em questão estamos falando da igreja, sobretudo da comunidade cristã local, posto que nela haja não poucos obreiros com sérias dificuldades de aceitar a hierarquia estabelecida.
Comumente, é naturalmente bíblico que dentro da igreja haja, sob o prisma organizacional, pessoas escolhidas para supervisionar os trabalhos concernentes ao serviço cristão realizados nas comunidades cristãs e essas pessoas naturalmente darão ordens a outras para que o serviço propriamente dito seja feito com excelência e produza frutos para o Reino de Deus, tudo isso dentro de um clima de amor e igualdade entre a irmandade, sem que haja grandeza de coração entre aqueles que foram escolhidos para supervisionar a obra de Deus e tenham sido colocados sobre outros. O Senhor Jesus nos deixou o exemplo (Mc. 10:43,44); e antes de ascender ao céu deu ordens expressas aos discípulos para que fizessem novos discípulos e os instruíssem em tudo quanto foram ensinados (Mt. 28:18-20); na mesma linha Paulo nesta mesma carta exorta aos irmãos de Filipos a nada fazer para o Senhor senão por humildade:
"Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo." ( Fp. 2:3)
O RECONHECIMENTO PÚBLICO POR PAULO AFIRMOU O VALOR DO TRABALHO DE EPAFRODITO
"[...] Meu irmão..." Antes de comunicar a necessidade eclesiástica, Paulo fez questão de destacar a convivência pessoal e da amizade fraternal que ele tinha com Epafrodito. Aquele obreiro ia além de seu valor funcional para Paulo, ele o tinha como alguém que traspassava os limítrofes eclesiásticos e se aproximava de sua amizade pessoal, para o apóstolo dos gentios Epafrodito era tido como um irmão, sua proximidade permitia que ele conhecesse as necessidades do apóstolo, suas fraquezas e temores, aspectos que somente os mais chegados podem perceber; que são obtidos apenas por aqueles que se amam em Cristo e se respeitam fraternalmente. No Novo Testamento a palavra phileo é usada para expressar o amor de pai e mãe e de filho e de filha (Mt.10:37). É usada também para revelar o amor de Jesus por Lázaro (Jo. 11:3,36), phileo ainda revela a comunhão estreita que Jesus tinha com João, o discípulo amado (Jo. 20:2).
Amar o próximo como a si mesmo é um mandamento atemporal (Mt. 22:39). Além do amor ágape, o amor fraternal, conhecido como amor phileo é também o amor dado por Deus para que os irmãos amem-se uns aos outros independente de suas posições eclesiásticas ou sociais, é aquele amor que sentimos pelos nossos amigos, especialmente os mais íntimos. O amor fraternal está ligado a um afeto profundo e um compromisso mútuo entre os membros da igreja de Jesus, testificando desse modo ao mundo a união na comunidade e o zelo no relacionamento entre aqueles que seguem a Cristo, este é o amor que faz o mundo crer que nós somos discípulos de Cristo:
"Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." (Jo. 13.35)
Como Paulo, os pastores precisam de obreiros amigos em quem ele possa confiar e contar suas dificuldades enfrentadas no ministério, na lida pastoral o pastor por vezes é um crente solitário, se torna alguém com poucos amigos e, consequentemente, com poucas pessoas para compartilhar suas dores, decepções, frustrações e fraquezas, quando encontra alguém com as características de um Epafrodito, certamente estará diante dele alguém que o ajudará de forma extraordinária não somente na vida ministerial, principalmente na vida emocional. Para Paulo Epafrodito era antes de tudo, um irmão, e isso fez uma diferença exorbitante naquele momento de seu ministério. Roguemos a Deus para que Ele levante muitos Epafroditos nestes dia de liquidez e frieza relacional entre irmãos.
"[...] E cooperador..." Epafrodito era um obreiro dado à obra do Senhor, em primeira mão Paulo o chama de cooperador: (Com o operador), ou seja, aquele obreiro era alguém que andava com o dono da Igreja, tinha sintonia com o Senhor, certamente essa era a razão maior de seu excelente caráter e de seu compromisso com a comunidade cristã. Cooperar com alegria e disposição no serviço cristão é se colocar à disposição do Reino de Deus tendo-o em alta conta, quem assim o faz pode colher os frutos de seu trabalho com satisfação e consciência tranquila, pois sabe que todas as vezes que o Senhor o convocou ele pode dizer: "Eis-me aqui, envia-me a mim."
Apesar de Epafrodito não se preocupar em aparecer, e se entregar ao serviço do Senhor de todo o seu coração, o apóstolo Paulo faz questão de afirmar o valor de seu trabalho, como era de seu costume Paulo não tinha ciúmes de alguém que se dispusesse a fazer a obra de Deus, ele aliás orava ao Senhor por eles. É muito bom quando a liderança eclesiástica não se sente insegura pelo despontamento de algum irmão que com afinco se destaca no serviço de Deus, posto que estes precisam ser acolhidos e incentivados a continuarem usando seus talentos para o crescimento da igreja de Cristo, tentar tolhê-los é uma atitude pequena demais para alguém que está na posição de liderança.
"[...] E companheiro nos combates..." Dentre muitas qualidades, Paulo destaca também que Epafrodito era mais que amigo, era um companheiro e um obreiro destemido no que tangia ao serviço do Senhor. A palavra companheiro vem do latim "companio, aquele que compartilha o pão", (cum = com + panis = pão), tem a ideia de alguém que divide a comida, demais atividades e, por fim, a vida. Epafrodito era um obreiro completo, não recuava por ouvir ameaças e/ou críticas, ele não desistia do propósito pelo qual era enviado por coisas banais e corriqueiras e, no que dependesse dele, o trabalho de Deus seria feito, ainda que isso lhe custasse a vida. Que exemplo de obreiro fiel!
Companheiro nos combates não significa ser um soldado adestrado para lutar as batalhas carnais, pelo contrário, tais combates estavam no âmbito espiritual, nisso Epafrodito também se identificava com Paulo, que era acostumado a enfrentar pelejas teológicas e espirituais, sem em nenhum momento negar o nome de Cristo ou deixar de defender a doutrina da graça dada pelo Senhor, Paulo combateu legitimamente todas as guerras pertencentes à fé cristã e foi o principal propagador do Reino de Deus no cristianismo: "Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé." (2 Tm. 4:7).
PAULO O RECONHECE COMO OBREIRO FIEL E DE SUMA IMPORTÂNCIA PARA O REINO DE DEUS
"[...] E vosso enviado para prover às minhas necessidades..." Epafrodito não é apenas apresentado como cooperador, ele também é colocado por Paulo como Apóstolo (no sentido de ser enviado), verdade é que na mente paulina não havia uma distinção no propósito do uso dos dons como vemos hoje, para além disso, no que concerne ao Reino de Deus o apóstolo é um cooperador como todos os demais irmãos (Rm. 16:21; 1 Tss. 3:2), Paulo não tinha em mente a "hierarquia eclesiástica pentecostal", mas sim a igualdade entre os irmãos no serviço prestado a Deus. Com isso não faço uma crítica a hierarquia pentecostal, somente busco aclarar a mente do leitor para o sentido que o texto está de fato mostrando. Para além disso, a dedicação e eficácia do mensageiro é digna de ser louvada.
Aqui também chama a atenção que, mesmo num passado remoto onde a comunicação era precária, aquele obreiro cumpriu na íntegra a ordem recebida. Diferente dos dias atuais onde a comunicação é farta mas há uma dificuldade enorme de ser transmitida ou cumprida de forma eficaz. Desse modo, mais que nunca cabe aqui a frase de Lacan: "Você pode saber o que disse, mas nunca o que o outro escutou" (LACAN) , pois que, se por um lado temos uma cadeia enorme de veículos de comunicação de massa, por outro lado temos também uma rede sem fim de falsas informações, capazes de levar incautos a cometer coisas horríveis, resta-nos peneirá-las e extrair as confiáveis e verdadeiras e, na medida do possível, usar o método cartesiano para checar a origem das informações.
Além do amor fraternal manifestado por Paulo, percebe-se que Epafrodito também tinha um amor especial e um compromisso inigualável com a igreja de Cristo naquela região, a qual estava sempre a seu serviço.
"Porquanto tinha muitas saudades de vós todos, e estava muito angustiado de que tivésseis ouvido que ele estivera doente." (2.26).
A saudade que Epafrodito nutria pelos irmãos de Filipos era muito grande, mas ele foi impedido de retornar em tempo hábil por ter sido acometido por uma enfermidade. Seu coração se angustiou mais ainda quando soube que a igreja foi informada de sua enfermidade, ou seja, Epafrodito se angustiou porque soube que a igreja estava triste ao saber que ele estava enfermo. Que obreiro especial, que coração cheio de amor pelo Reino de Deus! Em meio a tudo isso, Paulo o recomenda à igreja, para que essa o receba do modo digno que ele deve ser recebido: "Recebei-o, pois, no Senhor com todo o gozo, e tende-o em honra" (2.29), em outras palavras, a comunidade de Filipos deveria recebê-lo no Senhor, como usam fazer os santos. Era o mínimo a ser feito por um obreiro comum, porém digno de grande honra e estima.
CONCLUSÃO
Epafrodito nos deixou um grande exemplo a ser seguido, com ele aprendemos que para prestar um serviço de excelência ao Reino de Deus não é necessário ser alguém conhecido ou famoso, não é preciso trilhar por um caminho que tenha holofotes ou aplausos humanos como um meio ou um fim, mas sim, basta aplicar o coração para servir a Deus com amor genuíno, sem se preocupar em ser visto, apenas dedicar-se ao serviço de Deus com um coração agradecido e fiel.
SOLI DEO GLÓRIA.
Presidente da AD - Ministério Paulista
Graduado em Teologia IBAD/FABAD
Pós-graduado em Ciências da Religião FATEMIG/IBEMIG
Autor dos Livros:
.Jornada Ministerial
.A Suficiência do Evangelho de Cristo para Sua Igreja
.Igreja e Política, Caminhos Paralelos Para Alvos Diferentes
.Por um Discipulado Segundo Jesus Cristo
.O Deus Homem, A Incomparável História de Jesus Cristo
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Pastor Carlos Roberto Silva
Point Rhema